quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Partiipação em reforço é desafio para escolas

Motivar adolescentes com baixo desempenho escolar é uma tarefa que desafia gestores das redes pública e privada. A combinação da chegada do fim do ano com notas abaixo da média costuma provocar desânimo nos alunos. Não há consenso sobre quais são as medidas ideais para reverter esse quadro, e há estratégias que provocam polêmica.

Desde o início de 2010, a rede estadual de São Paulo conta com professores de português e matemática com horários exclusivos para atender quem precisa de reforço. Cabe aos diretores e coordenadores das escolas escolher o horário das aulas conforme a necessidade dos alunos.

Segundo a secretaria de Educação, a maioria dos colégios adota a chamada recuperação paralela no contraturno. O problema desse modelo é o grande número de estudantes que não comparece, em geral a partir do ensino médio.

"Fui só umas quatro vezes no reforço, muitas vezes acabava esquecendo", conta Lindinês Souza Santos, de 16 anos, no 2.° ano do ensino médio. "Agora já desisti, porque não vou conseguir média em matemática." Segundo a aluna, haviam 20 estudantes convidados pela direção da escola para participar do reforço de matemática, mas a classe no período da tarde nunca reuniu mais de dez. "Eu moro longe, não dá tempo de ir para casa almoçar e voltar, e também não quero ficar na rua até o horário", justifica-se a colega Marina Raphaela Cordeiro, de 16 anos, por não aparecer.

A coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas da secretaria, Valéria de Souza, explica que não é possível obrigar os alunos a comparecer fora do horário de aula. "Eles são convocados. A escola faz pressão, tenta envolver os pais, mas no ensino médio eles têm mesmo mais dificuldade de voltar para a escola." Recentemente, um projeto-piloto que previa a distribuição de brindes culturais no valor de R$ 50 para os estudantes que frequentassem regularmente a recuperação por três meses foi suspenso após repercussão negativa.

Segundo a coordenadora, mesmo com a "dificuldade" no ensino médio, o resultado tem sido positivo e a nova recuperação deve ter reflexo nas próximas avaliações do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) e Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb). "Se você tem uma política de recuperação, o aluno responde. Às vezes um problema pontual prejudica todo o trabalho", diz Valéria. Não há um controle centralizado de qual é a proporção de frequência entre os alunos convocados.

Durante a aula. Como forma de evitar as ausências no contra-turno, algumas escolas da zona norte da capital paulista estão dando a recuperação durante o horário padrão. O estudante deixa de assistir a uma ou duas aulas regulares por semana para participar do reforço.

A própria secretaria diz não recomendar o esquema, mas o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Munhoz Alavarse diz que, se bem aplicada, a ideia é boa.

"Como uma adaptação para que o aluno se reintegre aos colegas sem sobrecarregar sua jornada, é positivo. Mas, mal aplicado, pode comprometer a vida escolar dele, que já estava complicada", diz o professor.

"Esse processo se chama de diferenciação pedagógica: mudar a forma de ensinar para quem não está acompanhando. Mas, para funcionar, implica um refinamento na aplicação", alerta Alavarse.

Uma professora da Escola Estadual Renato de Arruda Penteado que aderiu à recuperação no horário regular conta que a ideia não está funcionando. "Tem aluno que prefere não ir ao reforço para não perder matéria nova", relata a docente, que pediu anonimato. "É uma bagunça. O professor dá aula regular, não sabe se o aluno faltou ou está no reforço e não gosta que tirem o aluno de sua aula. A recuperação fica sem crédito."

Fonte: O Estado de S.Paulo/ Luciana Alvarez